domingo, 26 de setembro de 2010

união

Pega a minha mão. Vamos fazer isto juntos.

o fim da solidão

Dizem que não devemos ser agressivos para com os nossos, que não devemos discutir, que devemos manter a paz. Porém, quebrar esta cordialidade por vezes pode revelar-se a atitude não só mais útil, mas também a mais sincera e fortalecedora.

A acrescentar à incompreensão e à rejeição, os maus-tratos e descargos injustos de má-disposição.
Depois de algum tempo, aprendemos que, quando estamos com raiva, temos o direito de estar com raiva, mas isso não nos dá o direito de ser cruel. (William Shakespeare)
Chegou a mandar-me para o caralho. Depois de estar com os amigos, ficou mais bem-disposto e começou a meter-se comigo, mas eu não lhe dei atenção:
- Ah, agora já estás mais bem-disposto?
- Não - Havia uma nota de divertimento na sua voz, enquanto que uma expressão alegre e brincalhona fluía no seu rosto.
- Então, quando estiveres bem-disposto e disposto a falar sobre o trabalho de Português, avisa-me, sim?
Não tive paciência para ser compreensiva. Eu, que andava cada vez mais triste, sem ter a atenção de ninguém, tinha sido mal-tratada só porque ele tinha acordado mal-disposto. Esperava o quê, que esquecesse o assunto, como de tantas outras vezes? Orgulho-me de não ser de ferro!
Durante a aula seguinte, uma amiga nossa, que a meu lado estava sentada desde o princípio do dia, perguntou-me diversas vezes o que se passava comigo. É claro, eu não ia perturbar a aula com os meus problemas de adolescente estúpida, até porque ela não pode dar-se ao luxo de não prestar atenção a uma disciplina à qual tem muitas dificuldades.
Claro está, depois de muito pressionar, decidi dar-lhe as minhas palavras vagas, como é habitual. Não era minha intenção contar tudo o que se passava comigo, até porque não queria admitir-lhe que até ela me estava a magoar, iria parecer egoísta da minha parte.
Quando dei por mim, estava já irritada e tinha dito tudo o que sentia, até aquilo de que tinha vergonha e não queria contar a ninguém.
Ele estava sentado à nossa frente, mas aparentemente não estava a prestar atenção, pois mantinha o olhar ligeiramente acima da minha cabeça e os auriculares nos ouvidos. Julguei que não tivesse ouvido nada e, em parte, fiquei satisfeita.
Finalmente, autorização de saída. Não me demoro a levantar, quero sair dali. É então que ele, em vez de se dirigir para a saída, se volta para trás e estende os seus braços para mim. Os meus olhos já estão envidraçados de mais para disfarçar e eu estou demasiado fragilizada para lhe negar o apoio, para além de que seria rude e ingrato da minha parte.
As suas poderosas asas envolvem-me a cintura e as costas. Eu pouso os meus braços nos seus ombros e rodeio-lhe o pescoço. É inevitável chorar.
Repete-me inúmeras vezes que não me abandonará e que não estou sozinha, fazendo-me lembrar de eu ter escrito que não precisava de palavras reconfortantes, apenas de um abraço.
- Eu sei que aquilo pelo que estás a passar é difícil - Ele tem razão no que diz. Não está a falar só para me reconfortar, está a ser sincero. Ele realmente sabe que é difícil perder a pessoa que mais amamos. Eu estou a perder a minha com dezasseis anos, ele perdeu a dele com catorze. As minhas mãos apertam o seu casaco com força e solto um soluço. -, mas a vida é mesmo assim: umas pessoas vêm, vão outras, e tu tens de ser forte. Tu vais ultrapassar isto, mas não o vais fazer sozinha, tu tens-me a teu lado. Eu não te deixarei, tu não estás sozinha. Às vezes pode parecer, mas não o estás!
Acho que já estou mais calma. Vou parar de ocupar o seu tempo. Largo os seus braços e afasto-me suavemente, mas ele insiste em voltar abraçar-me. Choro compulsivamente, enquanto ele me pede desculpa por ter sido rude comigo de manhã, mais do que uma vez. Beija-me no ombro e eu seguro o seu rosto entre as minhas mãos. Prometo-lhe já não ter importância, mas ainda assim ele insiste em desculpar-se. Apenas com um olhar directo e um beijo na face ele fica convencido.
Escusado será dizer que a professora reparou na situação. Também ela me abraçou e se preocupou comigo. Aparece, então, na sala, o Gonçalo, com um sorriso brincalhão:

- Ouvi dizer que alguém estava a chorar...
Não posso criticar o Rosso de forma negativa, pois sei que entre eles os dois há uma grande confiança. Cresceram juntos, passaram toda a sua vida lado a lado, para além de que é óbvia a minha confiança com ambos.
- Pois, mas já perdeste a parte das lágrimas. - diz a Rebeca.
Parecem agora determinados a animar-me.
- Ohh!
- Agora só apanhas a parte do vermelhidão na cara.
Uma risada geral terminou um episódio de solidão e carência afectiva.

Foi bom. Foi muito bom.
Não quero voltar a chorar por tudo e por nada.
Não quero voltar a abrir os livros e ficar horas a olhar para eles, sem vontade de os ler.
Maus tempos aguardam-me... mas agora sinto-me preparada para enfrentá-los. Vou passar por uma época difícil, mas agora sinto-me pronta para o que der e vier.
Agora, estou preparada para enfrentar o que aí vem. E porquê?
Porque, acima de tudo, não estou sozinha.

sábado, 25 de setembro de 2010

a coragem de ser cobarde

Cada passo em frente custa-me muito a ser dado. Ninguém me tem ouvido. Ninguém me tem olhado nos olhos e percebido que não estou bem. Tenho-me sentido tão sozinha e desmotivada que a janela parece-me tentadora.

Costumavas ser a única razão que me mantinha forte, que me fazia ter esperança de ser feliz no futuro, só que eu sei que não te vou ter por muito mais tempo. Eu estou a perder-te progressivamente. Vais ter alta em breve. Vens para casa e quem vai cuidar de ti? Duas das tuas filhas comprometeram-se com a Assistência Social a vir todos os dias cá a casa tratar de ti, mas depois elas vão-se embora e como é? Quem vai alimentar-te? Lavar-te? Mudar-te a fralda? Sendo que eu passo quase todo o dia fora de casa, terá de ser ele, ou vais ficar suja até o dia seguinte, esperando que elas cheguem? Achas que ele consegue assistir a isto e deixar tudo como está? Sabes, contrariamente, o que acontece se ele faz um esforço maior? As vértebras dele estão muito fininhas e separadas; com um esforço, parte as costas. É ele quem vai carregar com o teu peso? Não és propriamente leve... Além disso, trata-lo mal e não queres ver mais ninguém se não a mim. Estás sempre carente e apenas o meu amor te consola. Terei eu tempo para a escola? Vou eu conseguir fazer os trabalhos? Estudar? Não vou! Eu estou por minha conta, com apenas dezasseis anos.

E o que me acontece na escola? Os meus amigos afastam-se de mim. Ninguém percebe que não estou bem. Uns brincam comigo, como se eu tivesse paciência para isso, enquanto que outros parecem fugir de mim.

E o que acontece, quando chego a casa? Ele trata-me como se eu fosse um tapete velho e sujo.

Quando, há quatro anos atrás, eu era uma suicida, deixei de o ser porque comecei a ganhar a esperança de ser feliz um dia.
Quatro anos depois, aqui eu, com o desejo de saltar da janela, com a determinação de acabar com tudo. Tudo porque, quatro anos depois, as coisas apenas ficaram piores e piores.

No meio de tantas lágrimas, contudo, penso o que será dos outros sem mim. Quantas vezes me tinham dito que não conseguiriam ser felizes sem mim? Como será suportar a dor de me perder?
Não, eles irão ultrapassar. Ao fim de algum tempo, irão conseguir seguir em frente a sua vida. Além disso, acaba tudo aqui. Eu não assisto a mais dor, a mais nada. Tenho aqui o fim de tudo. Os outros acabarão por superar e poderão um dia ter uma família, brincar com ela, concretizar objectivos profissionais, serão felizes.
Mas... e a minha avó? Ela está a viver os seus últimos momentos da sua vida. Ela não tem vontade de viver, ela está numa depressão enorme. A única coisa que a faz aguentar mais ou menos a dor é saber que eu preciso dela para aguentar a minha. Ela apenas vive em minha função. Se eu termino a minha vida, a dela termina também. Como vai ela superar os seus problemas de saúde? Como vai ela aguentar viver? Ela não vai conseguir ultrapassar! Ela não o merece!

Perco as forças. Vou de encontro à parede. As minhas costas chocam contra a porta. As pernas fraquejam e deixam-me cair no chão, desmanchada em lágrimas. As minhas mãos puxam os meus cabelos com força e, impotentes, pressionam a sua frustração contra a minha cabeça.
Ainda agora tive um desejo nunca antes tão grande de saltar aquela janela... Estive prestes a suicidar-me!

Agora, neste preciso instante, sinto-me um nojo. Agora desejo morrer, mas não por cobardia, mas sim por ter sido cobarde. Tenho ódio de mim mesma. Frustração.
Tinha sido uma cobarde.
Tinha estado a um ponto de cometer algo contra o qual eu era.

medo da segurança

Custa-me estar a crescer e estar cada vez mais presa.
A minha escola organizou um clube de política para o 12.º ano. Vão ser criadas listas de ideias e alunos e um presidente será eleito para cada lista. Os presidentes das listas juntam-se com os outros presidentes das outras escolas e vão à Assembleia da República apresentar as suas ideias e teses. Vão dialogar com os deputados portugueses no Parlamento.
O corpo docente acha que, apesar de eu não ter Ciência Política nem estar no 12.º, tenho capacidade e estou à altura do desafio, por isso convidou-me a juntar-me ao clube.
Inicialmente, ao telefone, pareceste-me radiante.
Quando cheguei a casa, os meus receios concretizaram-se: não queres, claro está, que eu fique mais forte do ponto de vista argumentativo. Tens medo que eu fique ainda mais segura de mim mesma e consiga ser mais distinta do que o que queres. Não queres que eu seja influenciada por partidos políticos que não são os meus, os ideais para mim. Ou seja, sabes perfeitamente que eu sou politicamente bastante diferente de ti, mas como apenas tu estás certo - porque tu és o chefe de família e julgas-te papa e rei absoluto, porque todos os outros são cretinos e tu (seu bruto) és detentor da verdade suprema, porque tu és Salazar, és Hitler, és Mussolini e és Franco - eu não tenho liberdade de ser individual e de ser eu própria!


A única coisa que veio alegrar-me e me excitou, me orgulhou de mim mesma, me deixou realmente feliz, foi-ma dada e retirada de imediato. Deves achar que me convences a obedecer-te e que vais longe, assim.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

através de um olhar

Não sou capaz de admitir que estou triste.
Tento desenganar-me, mas eu própria acabo por subestimar os meus próprios sentimentos. Acabo sempre por concluir que estou a exagerar e que as coisas não são tão más assim, aparentemente invalidando a minha própria pessoa de estar triste. Afinal, os heróis nunca fraquejam... Os corajosos não têm direito à tristeza: têm de se ocupar com a força e a destreza.
Só gostava que reparassem com mais frequência que não sou uma heroína. Talvez a dor fosse mais fácil de suportar. Eu não gosto de dar nas vistas, mas gostava que, às vezes, as pessoas que amo conseguissem interpretar os meus olhares, desvendar o meu estado de espírito sem que para isso esteja a chorar. Eu não peço, com isto, que me dêem palavras reconfortantes, não peço que me façam felizes, não peço que me dêem toda a sua atenção... apenas que percebam quando estou ferida, através de um olhar, e me abracem.
Tudo isto está a ser tão difícil de aguentar que já não sei quem sou. Perco, lentamente, aquilo que mais segura me fazia... Dou por mim com pensamentos que sempre reprovei, com desejos de fazer coisas que vão de encontro aos meus princípios...

E, no entanto, tudo o que preciso é dum abraço.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

imperdoável

Conteúdo para Adultos


 

Não me vão mais prender. Não me vão mais trapacear ou impedir de fazer o que quiser.

O  Pai Natal este ano não descerá a minha chaminé. Esse badocha não vai tocar as minhas cinzas, farei questão de que isso aconteça!

Perdi o controlo total sobre mim própria. Agora desconheço a inocência por completo.
A leoa ficou demasiado tempo enjaulada. Cuidado! O animal está à solta.


Este ano não obterei perdão.

sábado, 18 de setembro de 2010

desafio musical

Não gosto muito de mensagens correntes, mas achei este desafio interessante. Consiste em pôr o leitor de música a reproduzir aleatoriamente e utilizar as músicas que vão sendo reproduzidas como resposta. Roubado de Just Like A Puzzle.

1) Como te sentes hoje?
Set Up, por Linkin Park. 
Bem, eu não "sou" hip-hop, mas, de facto, eu sinto-me, tanto hoje como em quase todos os outros dias, como que indestrutível, por saber que sou verdadeira e singular, não uma cópia qualquer, como é hoje frequente nos jovens.

2) Vais ser alguém na vida?
 The Little Things Give You Away, por Linkin Park.
All you've ever wanted was someone to truly look up to you and, six feet under water, I do.
Talvez venha a ser um anjo guardião... ou então mãe! :D

3) Como os teus amigos te vêem?
I Love Rock and Roll, por Arrows.
Uau... Bem, realmente os meus amigos estão sempre a assediar-me! :))

4) Vais casar?
 Dry Ice, por Green Day.
I'll send a letter to that girl asking her to be by my own.
Bem... pelo menos um pedido vai haver.

5) Qual é a música do teu melhor amigo?
Fillip, por Muse.
This feeling is strange, but it's not going to change for anybody.
Bem, ele tem Filipe no nome... e também é determinado.

6) Qual é a história da tua vida?
Alles ist Neu, por LaFee.
Claro, sempre aquele desejo da procura pelo desconhecido e o medo de falhar! :)

7) Como é que foi a escola secundária?
She's A Rebel, por Green Day.
She's a symbol of resistance.
Ahh, gostei! Tomas! É verdade ou não?

8) Como é que podes ir adiante na vida?
Society, por Pennywise.
A protestar-me contra a sociedade? A corrigi-la?

9) Qual é a melhor coisa nos teus amigos?
Numb / Encore, por Linkin Park e Jay-Z.
Acho que ser-se numb ou ser convencido e pedir que lhe peçam encore não é tão bom assim...

10) O que é que está in esta semana?
Coming Clean, por Green Day.
Pelos vistos, assumir e aceitar a sua própria bissexualidade aos dezassete anos; mas é só modas, claro.

11) Como é a tua vida?
I Wanna Be Sedated, por Ramones.
Por acaso, por vezes sinto que apenas químicos conseguem acalmar-me... :p

12) Que música vai tocar no teu funeral?
Assassin, por Muse.
Isto explica todos os sonhos em que sou uma criminosa e acabo atrás das grades.

13) Como é que o mundo te vê?
Heiss, por LaFee.
Uau, sou uma brasa. Olhem, por acaso também sou uma menina de Odivelas! ._.

14) Vais ter uma vida feliz?
Can't Take My Eyes Off You, por Muse.
Pelos vistos, apenas se o meu amado me deixar amá-lo. ._.

15) O que é que os teus amigos realmente pensam de ti? 
Uprising, por Muse.
Rebelião! :D

16) As pessoas têm inveja de ti?
Shut Up, por LaFee.
Why don't you kiss my behind?
Aí está.

17) Como te podes fazer feliz?
Outsider, por Ramones.
É verdade. Gosto de ficar do lado de fora, a observar e a reflectir. :)

18) Com que música farias um striptease?
Are We The Waiting, por Green Day.
Este desafio está a irritar-me.

19) Se um homem numa carrinha te oferecesse um doce, o que farias?
Taste The Day, por After Forever.
Mandaria o homem embora, saborearia o dia e esquecia o doce? ._.

20) O que é que a tua mãe pensa de ti?
Dear Agony, por Breaking Benjamin.
ATÉ A MINHA MÃE?!

21) Qual é o teu segredo mais escuro e profundo?
Wer Bin Ich? (Versão de Orquestra), por LaFee.
Pelos vistos, ter amnésia... ou problemas de identidade.

22) Qual é a música do teu inimigo mortal?
Uptight, por Green Day.
Uptight, I'm a nag with a gun, yeah. All night, suicide's last call. I've been uptight all night.
Quem não ficaria nervoso e atormentado toda a noite a pensar em suicidar-se, quando me tem como inimiga mortal? ;)

23) Como é a tua personalidade?
A Modern Myth, por 30 Seconds To Mars.
Sou demasiado maravilhosa para ser real, daí ser um mito. :p

24) Que música vai tocar no teu dia de casamento?
Viva La Vida, por Coldplay.
Claro, há que festejar!

25) Que música vai tocar na tua lua-de-mel?
Blitzkrieg Bop, por Ramones.
Claro está! Let's make some fucking magic! (Shane Dawson)

26) O que os desconhecidos acham de ti?
At The Library, por Green Day.
Sim, eu leio muito.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

uma consciência contraditória

- Anda, Cármen, não penses.
Uma gota de suor diverte-se com a minha face, como se ela fosse um escorrega de suor. Bem, de certo modo, até o é, se tivermos em conta a forma como este escorre naquele preciso momento da minha cara. Não são poros abertos e molhados, mostrando uma face brilhante, uma testa molhada: são pequenos fios de suor que vão deslizando a uma velocidade relativamente rápida, comparando com a velocidade normal a que as gotas de suor se formam durante actividade física ou momentos de calor.
- Ahh, não me perturbes! Deixa-me acabar isto.
- Oh, mas isto é difícil... e eu não serei capaz de o fazer. Não consigo. Tenho perfeita consciência da minha capacidade física.
- Pára de pensar! Sabes perfeitamente que, quando pensas, vem este idiota, o Pessimismo, e faz-te ver apenas os teus pontos fracos, persuadindo-te de que não és capaz, por questões lógicas. Tu consegues tudo, sabes bem disso.

Agora, é uma gota mais irritante ainda que me provoca. A minha pálpebra direita sente água a escorrer lentamente por ela abaixo e não posso limpá-la, por mais cócegas que faça, pois isso irá alterar o meu movimento e tornar a tarefa mais difícil.
- Deixa-a estar, tu és forte, consegues sempre suportar a dor.
- Se não aguentares, sempre podes parar...
- De nada terá servido o esforço até agora percorrido.
- Tu não aguentas, pára! Não te podem forçar a que algo que não és capaz de fazer.
Fecho os olhos. A minha respiração não poderia ser mais ofegante. Sinto-me exausta. Não tenho forças nas pernas, não consigo elevá-las ainda mais. Não estou a desempenhar o exercício correctamente. A minha garganta implora água. Estou prestes a desistir e a cair a qualquer momento...

Se fosse uma questão de vida ou de morte ou se do teu esforço físico dependesse a vida de alguém que amas, tenho a certeza de que irias descobrir mais força do que imaginas e fá-lo-ias certamente. (Gonçalo Costa)
- Ele tem razão.

Não vou parar, eu não posso parar! Observo um ponto na parede e fixo-o, insultando-o como se fosse o meu alvo. Vá, cabrão, tenta parar-me. Vamos ver se consegues.
- Já só faltam quatro vezes...
Anda, caralho! Tenta! Experimenta só! Eu vou conseguir. Eu consigo. Eu sou capaz e sê-lo-ei sempre!

Já está.
- Muito bem, viste como conseguiste? Eu disse-te que conseguirias!
- Sim, mas foi por um triz...
- Não foi nada. Ela conseguiu por vontade própria.

Fim do diálogo entre o demónio e o anjo dentro de mim. Agora, calem-se, desapareçam, porque vou tomar banho.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

aqui, a nosso lado

Ainda não consigo acreditar que voltei ao normal. O normal, isto é, aquilo que me foi prometido nunca mais se concretizar.
Se por um lado, tive medo de uma reacção, por outro, tive a confirmação exacta - não só conselhos e palavras dos outros - de estar errada.
Um pontapé iria despertar-te. Deverias começar a brincar comigo, como é de esperar, isso consolar-me-ia. É então que, mais do que uma diversão, deixas que entre em ti, talvez não aches perigo em mostrar-me aquilo a que apenas tu tens direito. Mais do que um beijo de cumprimento, um forte abraço, envolto em saudade, é entre nós trocado. Quem diria, o senhor-super-reservado a demonstrar tanto carinho?

- Vá, anda lá, conta... Fala comigo!
Eu sei que vais compreender. Sei que também compreendes que não sou superficial e por isso - não no sentido da cusquice, nem sequer no da obrigação: tu fá-lo porque me estimas e sabes que não te negarei a confiança - simplesmente não me peças para publicar a minha intimidade; eu conto-ta, partilho-a contigo, mas não de forma a que todos ouçam. A confiança não vem bem de mim, está entre nós dois. Sei que entendes isso, és o melhor amigo que algum dia pude ter. Sei que te preocupas, daí a persistência:
- Vamos ali para cima, onde não nos ouvem e não reparam em nós. Anda, senta-te aqui ao pé de mim.

Hoje sento-me, aqui, a teu lado. O calor amolece-nos e o professor discursa para todos: os que o ouvem, os que querem ouvir e não conseguem e os que não conseguem ouvir porque não o querem realmente. Nada disso existe, nada disso importa. O sol entra pela janela e destaca os teus olhos cor de mel. O teu cabelo preto brilha, enquanto mantens uma postura que representa um belo e vigoroso homem, dotado de sentimentos menos afectivos, mais fechados e reservados; mas quem está aqui, a teu lado, sou eu, a decifrar-te a consciência, e eu, a teu lado, vejo o sol entrar na janela e iluminar os teus profundos olhos de mel, que mostram, no mais precioso campo, o interno, o amor que resplandeces e a sensibilidade dentro de ti. Quem está aqui, a teu lado, sou eu e eu sei mais do que quase todos - não quero insultar os teus pais nem fingir que sou a mais sábia, porque há grandes pedaços de sabedoria que não posso absorver - os que te rodeiam, tenho mais do que os outros têm: eu tenho-te aqui, a meu lado. Sempre tive, agora vejo-o. Sempre que me foi possível ter-te aqui, a meu lado, tive-te. Os outros estão apenas a rodear-te. Raros são os que realmente te têm ali, a seu lado. Sinto-me orgulhosa por isso, confesso-o. E nada mais existe, nada mais importa.

Ah, o prazer da proximidade física! Parece um dos meus melhores sonhos. Parece impossível que naquele exacto momento, estou ali, convosco a meu lado, de volta à escola.

Desta vez, tive demasiado medo de te perder e isso acordou-me. Desta vez, vou aproveitar cada minuto e nunca mais hesitarei sentir!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Querida Agonia


Às vezes a dor pode ser linda e trazer beleza, tendo um grande impacto em mim.
Um dia tirei o álbum Dear Agony e meti-o todo no meu leitor de música. Estava na escola, bem da vida, a fazer exercícios, de manhã, sozinha, em paz, com o leitor a dar música de fundo.
Por alguma razão, essa música impediu-me de continuar. Pus o volume no máximo, empurrei os auriculares para dentro dos ouvidos, fechei as pernas e enrosquei-me nelas, com os braços à volta dos joelhos. Encostei a cabeça e a beleza da música fez-me chorar.
De todas as outras vezes, sempre que chorei a ouvir música foi porque me recordava de algo triste. Ao fim de quinze anos, confrontei-me com uma única música que me comoveu a ponto de impedir a minha coragem e disciplina interna de agirem, não conseguindo reter as lágrimas.
Cada frase dessa música é sincera e profunda; cada nota da guitarra é angelical: soa como uma harpa nos meus ouvidos - e quando se torna mais pesado, em vez de me assustar, faz com que páre de voar alto e voe em pique, afundando-me num oceano de emoções, como um pára-quedista que se achou sem o seu pára-quedas a funcionar correctamente apenas no momento de o abrir; como se as minhas mãos adquirissem um poder emocional incontrolável e um peso excessivo, rasgassem o chão, permitindo a outras mãos exteriores puxarem-me para baixo a uma velocidade ofensiva, que me magoa de tal forma que não consigo nem quero fazê-la parar. Qualquer grito é incontrolável, pois se eu conseguisse controlar conscientemente o meu comportamento naquele momento, não iria certamente gritar quando não sou audível. Grito, então, em silêncio, mas grito. Quando finalmente o Ben começa a cantar, sinto que aterrei no fundo da Terra e não há forma de me enterrar mais ainda. Quando o refrão chega, desmaio e deixo-me enlouquecer. Isto tudo, claro, interiormente, porque exteriormente apenas uma lágrima a percorrer a minha face é visível.
Acordo de uma tempestade, então, e reparo na simultaneidade emocional que acabo de atravessar. Aí, recupero os sentidos e apercebo-me de ter vivido os quatro minutos mais intensos de toda a minha vida, sem sequer sair do mesmo lugar. Os meus olhos abrem-se e fico aliviada por saber que continuo sozinha, ali, pois não creio no gosto pela partilha de um momento tão privado. Não lhe chamaria egoísmo ou vergonha, mas sim culto próprio.
As coisas mais belas e importantes só podem ser encontradas pela Visão Interior, que Vê cegamente: de olhos cobertos, cerrados ou claramente abertos, mas inactivos.


I have nothing left to give. I have found the perfect end. You were made to make it hurt, disappear into the dirt, carry me on to Heaven's arms, light the way and let me go. Take the time to take my breath, I will end where I began and I will find the enemy within, because I can feel it crawl beneath my skin.
Dear agony, just let go of me, suffer slowly... Is this the way it has got to be, dear agony?
Suddenly, the lights go out. Let forever drag me down. I will fight for one last breath: I will fight until the end.
Do not bury me, faceless enemy, I am so sorry! Is this the way it is going to be?
Leave me alone... God, let me go!
I am blue and cold. Black sky will burn.
Love, pull me down! Hate, lift me up!
Just turn around: there is nothing left...

Somewhere far beyond this world, I feel nothing anymore.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

retornar à rotina

Este Verão vou ler carradas de livros, vou fazer exercício físico, vou limpar a casa com frequência, vou rever música, vou aprender guitarra, vou escrever no blogue, vou ler todos os blogues pendentes que tenho nos marcadores e vou ficar orgulhosa por isto. Vou, ainda, dar muito amor à minha avó, a pessoa que mais o merece. Talvez desta vez possa dizer que tive umas férias à maneira!

Falta uma semana para voltar à rotina e o que fiz? Dediquei-me a ser estranha de novo, a escrever ocasionalmente, a sonhar com música, a mergulhar nuns oito livros, à vontade, e a aborrecer-me comigo mesma. Aprendi a guitarra, sim, e debrucei-me em lágrimas pela perda da minha base, através de um internamento de meses da minha avó.
Rico Verão. O que vale é que ainda fui à praia ver o mar algumas vezes e a literatura não me abandonou por completo...

Ao menos livrei-me de bocas e insultos durante três meses e tive tempo para reflectir e pensar, algo que anseio por fazer constantemente. Esperemos que este ano ouça menos Olha ali aquela miúda, que horror! e Já viste a forma como se veste?, acompanhados de olhares que me tentam intimidar, só porque sou individual em tudo o que faço, até na forma como me visto, e tenho orgulho em ser quem sou. Quando irão perceber que os verdadeiros ridículos, a meus olhos, são vocês?


cair de cu

Escorregar no Katchup


Mais uma vez, a Sílvia distingue o meu blogue dos demais. Desta vez, diz-se que é um blogue de cair de cu. Ainda hei-de entender o significado desta expressão.

Julgo que isso signifique que tenha de marcar outros blogues bons com este selo. Aqui está a lista dos condenados:

Divirtam-se a descubri-los. Não vos asseguro de gostarem, pois em geral os meus gostos são sempre estranhos, mas asseguro-vos de realmente adorar estes blogues.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

o homem dos bolos II

Conteúdo para Adultos


Em seguimento d'O Homem dos Bolos I


- Só mais um não me fará mal, creio...
Tinha acabado de trincar o biscoito, quando a sua metade  desapareceu da mão. De olhos esbugalhados, Elle não conseguia conter o espanto. Apalpando o sofá em sua volta, nada encontrou, por isso resolveu levantar-se, como se fosse possível para um bolo fugir das mãos e esconder-se debaixo de duas rechonchudas nádegas. Foi então que viu gotas de mel aparecerem em trilho no chão, como se dois pés invisíveis besuntados caminhassem. Olhou para onde se dirigiam. Agachou-se para espreitar debaixo do sofá e, ainda incrédula, comentou:
- Isto é cientificamente inválido. Parece impossível... - sentiu um arrepio, como se a espiassem, mas, não vendo alguém, voltou a espreitar - Devo estar a sonhar...
- Não estás, Williams. - uma voz fria e sarcástica cortou-lhe a respiração - Isto é muito mais real do que parece e, como é do teu conhecimento, as aparências iludem...
Um homem branco como cal pousava atrás de si, com um sorriso vago e um olhar intimidador. Muitas vezes antes, em muitos sonhos anteriores, este homem a tinha assustado, com imagens da própria Elle, ensopada em sangue, tentando desesperadamente acordar outras jovens mulheres, mas em vão: não é conhecido nenhum caso de vítima de estripamento que tenha sobrevivido; esse homem pouco atraente surgia e prometia-lhe ser a próxima. Agora aquele homem estava ali, ou pelo menos aparentava estar: Elle queria certamente destruí-lo, esmagá-lo por absoluto, cuspir-lhe vómito na garganta, pisar a sua cara, arranhar-lhe as bochechas, arrancar-lhe os olhos... mas sentia-o aproximar-se, pelo olfacto, e permanecia estátil, enquanto os seus olhos faziam aumentar o volume daquele homem, assegurando-a de estar próxima do seu fim. Queria fugir... mas como?